quinta-feira, 30 de julho de 2009

Eu, eleitorado

Na terça-feira, 21 de Julho de 2009 a arena política Moçambicana foi marcada pelo encerramento da actual legislatura do Parlamento, pois a 28 de Outubro novos deputados serão ecolhidos em mais umas eleições gerais. Falar da configuração do painel do parlamento que resultar desse exercício democrático, é tecer conjecturas, que não me pareçem apropriadas neste momento.

Fiquei uns anos fora do país por isso precisava de mergulhar novamente na realidade tambémem relação aos políticos que nos representam, por isso a transmissão deste evento na TVM mereceu toda a minha atenção.

Verifiquei com tristeza que a postura dos deputados pouco mudou ao longo dos quase 15 anos de democracia mulipartidária. As mudanças ténues que constatei foram que se antes os representantes do povo eram flagrados a dormir quando alguém discursava, agora não dormem mais, mas parecem muito ocupados a segredar uns com os outros ou a manusear atentamente os seus celulares. Sim é verdade que o discurso da oposição naquele dia foi o mais longo na história da AR, mas os deputados não pareciam cansados ou enfastiados, e pareceu-me simplesmente que não estavam a ouvir. É que considerando a linguagem corporal das pessoas que apareciam em segundo plano na televisão, parecia que a pessoa no pódio não estava ali a transmitir a perspectiva de uma parte respeitável do eleitorado sobre o parlamento, o país, a nação.

Chocou-me deveras ver que nem mesmo quando foi feita referência a deputados falecidos no decurso da legislatura, houve uma mudança de atitude em sinal de respeito pela vida humana, por parte dessas pessoas que apareciam no écran em segundo plano.

O que não mudou na “magna casa” foi o comportamento que mais uma vez teve a maioria dos deputados da Renamo –UE, ao abandonarem a sala quando o Chefe da bancada da Frelimo iniciou o seu discurso.

Na essência, esta postura e aquela apontada em cima em nada diferem.

Apesar disso, foi animador registar a permanência na sala de cerca de meia dezena de deputados da oposição, facto que revela que a heterogeneidade começa a vislumbrar-se no horizonte. Afinal nem todos pensam e agem da mesma forma, e ainda bem que algumas pessoas que pensam de maneira diferente têm a liberdade de se posicionar em consciência na oposição.

A liberdade de expressão plasmada na Constituição da República motivou-me a sair da crítica nos bastidores e da inacção, e a partilhar esta minha interpretação sobre o comportamento dos nossos deputados em fim de mandato.

Devo começar por dizer que apenas ouvi os últimos 10 minutos do discurso da bancada da Renamo-UE , mas escutei na íntegra o muito aplaudido discurso do Chefe da bancada da Frelimo. Muito aplaudido e festejado com cânticos e vivas pelos representantes do partido da maioria, note-se.

Depois de cumprido o protocolo, foi feita a resenha do trabalho levado a pelos deputados. Não os deputados da Assembleia, apenas pelos da maioria. Escutei com espanto que só esses é que trabalharam ao longo dos 5 anos. Os outros, da oposição, aparentemente nada fizeram.

Depois, foram feitos calorosos elogios ao Presidente da Assembleia, a Sua Excelência o Presidente da República, às forças de defesa e segurança por terem prevenido um projectado tumulto (isso na mente de alguns). Manuel Frank também foi agraciado, bem como o Governo da Frelimo.

Em seguida, ouvi com tristesa a doença de uma mãe ser banalizada, porque um filho decidiu levá-la à vizinha África do Sul para tratamento. Enfim, observação infeliz, porém registada.

Ouvi do porta-voz dos veteranos, segundo eles únicos defensores dos ideiais democráticos em Moçambique, palavras e expressões tais como “mentiras” da oposição (é claro); e “juntos ao serviço do ‘nosso’ povo”, e perguntei-me: até quando?

Até quando é que cada uma das forças políticas que nos representam vai reclamar a exclusividade da democracia neste país de todos nós? Será que a democracia em Moçambique começa e termina nos manifestos políticos e os cidadãos não são parte do processo?

Até quando é que quem detem o poder é que sabe tudo, e todos que não são parte desse grupo são contra e não contam, não servem, são ignorados? É que as imagens da TVM mais a liguagem usada atestam um desprezo inexplicável pelo próximo, pelo co-cidadão. Por uma parte de Moçambicanos que escolheu ‘os outros’ com o seu voto.

Quando é que os nossos veteranos, vencedores da luta armada, experientes construtores desta nação vão perceber e reconhecer que o crescimento de um país, o progresso e o desenvolvimento são resultado de uma dinâmica conjunta, da qual todos são parte com ideias semelhates, diferentes e divergentes?

Quando é que vamos elevar o nível de diálogo da “casa magna” e parar de vez com comportamentos semelhates a crianças mimadas e malcriadas que julgam e chamam ‘mentirosos’ aos outros? Senhoras e Senhores, pais, avós de famílias, que exemplo é que vocês, a quem confiamos os nossos votos, dão aos jovens e crianças na construção desta Nação? Que semestes estão a semear para as gerações vindouras contribuirem em consciência, verticalidade e verdade para o mundo em que vivemos?

Quando é que vamos nos unir como um único povo para tirar este país e África do marasmo em que se encontra?

Senhores deputados, quando é que vão parar de massajar os vossos egos com glória pelo que se fez, e pensar, falar e agir face ao muito que ainda há por fazer?

Mais importante ainda, quando é que vamos começar a aceitar, e sobretudo a respeitar, as diferenças? Quando é que passaremos a respeitar o ser humano à nossa frente, mesmo quando ele vê e entende o país de uma maneira diferente? Por ventura não será justamente a diversidade de ideias e perspectivas sobre determinada questão o motor de qualquer mudança?

Será que, contráriamente a toda a raça humana, em Moçambique existem duas pessoas que concordam em 100% nos mesmos aspectos da vida? Será que quando se está do lado ‘certo’, qualquer que seja esse lado, passa-se a ter a virtude de automáticamente se pertençer um bloco uno e indiviso? Se a resposta a estas duas perguntas é positiva, então o nosso país mereçe ser especialmente distinguido neste planeta pela excepcionalidade destes factos inéditos.

Apesar das principais forças políticas pelo menos naquele dia se terem ignorado mutuamente, eu não faço ideia como seria Moçambique se a Renamo-UE não existisse, nem consigo imaginar o meu país sem a Frelimo. Perante mim, eleitorado, ambas estão aqui, à minha frente.

Só que parece que elas estão paradas no tempo. Depois da guerra que para satisfação de todos Moçambicanos terminou, eu eleitorado me apercebo que afinal a luta continua, não mais com armas, mas com palavras, pois não há claramemente um objectivo comum no seio dos representantes do ‘nosso’ povo.

Resumindo, o que transpirou para mim aquela sessão de encerramento da AR é que o princípio de que ‘se não estás comigo, estás contra mim’ perdura e parece que vai perpetuar-se.

E eu, eleitorado, assisto com serenidade aparente a esse confronto ‘eterno’. Sou cúmplice desse desamor, desses ressentimentos que tardam a ser resolvidos, desse mascar de rancor que parece uma chuínga sem gosto e gasta, e dessa auto-proclamação de virtudes de parte a parte!

Eu, eleitorado, que elegi aqueles deputados para me representar, naquele dia em que os utentes da magna casa terminaram o seu mandato senti que faltou algo. Faltou o meu merecido “obrigado” por ter feito a minha parte ao colocar-vos na “casa magna”? Eu, eleitorado esperava dos mandatários a humildade de se questionarem se o trabalho que lhes foi confiado foi bem feito.

Mas eu, eleitorado, não tive nada disso!

terça-feira, 21 de julho de 2009

Giving

You must always give more than you receive. I mean, you receive one, you give a hundred, and if you are able to do it, nature will give you a thousand to give, nature will give you a hundred thousand to give, and you go on giving until a trickle in the mountains becomes like the Ganges, a wide huge enormous river able to quench the thirst of multitudes.
Heart Speak 2004, vol. 2, p. 161 – Rev. Chariji