terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Zimbabwe



A única coisa de que podemos falar de forma sensata é sobre a dor, que não atinge apenas os ricos, os saudáveis ou os intelectuais. A dor é denominador comum ao ser humano... a toda a humanidade.

(Heart Speak 2004, vol. 2, p. 117 –Rev. Chariji)


Foi dor o que senti ao escutar na semana passada a notícia segundo a qual o Presidente do Zimbabwe teria declarado que o surto de cólera naquele país estava controlado pelos médicos e pessoal de saúde. Também é dor e sobretudo tristeza que emana da maior parte do que leio e ouço a respeito desse país, que conheci e me afeccionei ao longo dos 6 anos que lá vivi com a minha família.

Durante esse período lenta mas progressivamente fomos assistindo à firme degradação social, económica e política deste país, ao ponto de dias antes da nossa partida definitiva em 2003 um agente da lei e ordem ter apontado uma arma ao meu filho na confusão de uma das raríssimas bombas de gasolina que nesse dia tinha combustível.

Na época a nota dominante para além da falta de combustível e de produtos alimentares básicos como a farinha de milho, óleo e açúcar era a saída em massa de Zimbabweanos de todas as vertentes sociais para os países vizinhos, e também para o Reino Unido e Austrália. Eu pensava então que a situação iria reverter logo, pois abstractamente acreditava que o senso comum fosse prevalecer. Cada vez que o Zimbabwe era notícia na imprensa internacional (e não foram poucas vezes), pensava para os meus botões que aquela seria provávelmente a gota de água e que algo seria feito por quem de direito para se pôr fim à sucessão dos eventos cada vez mais atrozes pelo que o país foi passando.

Na análise da crise neste país, há o argumento de que a imprensa internacional é tendenciosa e para defender os seus interesses desvirtua a realidade Zimbabweana. Contudo, as notícias são a forma mais eficáz que o mundo tem de estar a par do que se passa nos diferentes países. A imprensa internacional em geral reporta sobre situações de desíquilibrio ou de busca de equilíbrio e o bom, o normal poucas vezes merecem destaque nos noticiários. Em certa medida, ainda bem pois, a ausência de notícias passou a ser tácitamente apanágio de que está tudo em ordem.

O Zimbabwe é um dos países que tem sido destaque regular na media nos últimos anos, e atrevo-me até a dizer que poderá estar no topo do ranking dos países Africanos sobre o qual a imprensa internacional se debruça, e claro, sempre pela negativa.

Este país dá-me a ideia de um poço com muitos fundos falsos, uma vez que ao longo dos 5 anos desde que dali saí foram-se sucedendo actos de retirada e abuso de direitos e liberades desse povo tão pacífico e que claramente está voltado ao abandono.

A maioria das notícias de destaque teve a ver com prisões arbitrárias, repressão, tortura e desaparecimento de activistas sociais e políticos apenas por pensarem de forma diferente. Em 2005 o enfoque foi para a operação Murambatsvina que oficialmente teve o nome de Operação de Reposição da Ordem. Esta foi uma campanha de larga escala conduzida pelo Governo com vista a “limpar” as casas ilegais e actividades comerciais informais dos centros urbanos num esforço de reduzir o risco de se espalharem doenças infecciosas. Segundo as Nações Unidas esta operação afectou 2.4 milhões de pessoas incluindo doentes, velhos e crianças, dentre as quais um número considerável se viu forçado a dormir ao relento visto que o governo em plena crise económica arranjou combustível e buldozzers para destruir casas e mercados, mas não garantiu alojamento para as pessoas que de repente e em pleno inverno se encontraram sem tecto.

Só para dar uma ideia das transformações que se têm operado, este país que em meados nos anos 90 era considerado o celeiro da região, tem hoje a maior taxa de inflação do mundo. Dados oficiais indicam que em Julho de 2008 esta se situava na ordem dos 231 milhões por cento.


Nota de $100 bilhões dólares Zimbabweanos com o número de ovos que podia comprar quando foi lançada. Entretanto em Agosto de 2008 a moeda foi redenominada e cada $10 bilhões passaram a valer Z$1

Desde então a situação tem vindo a deteriorar-se ainda mais acentuadamente em virtude do impasse político que se verifica desde as controversas eleições presidenciais e parlamentares de Março deste ano, neste país que até à data não tem governo formado. A agravar este surto de cólera que eclodiu em Agosto último numa dimensão nacional e que até ao momento já afectou acima de 16.000 pessoas e tirou a vida de mais de 1000 seres humanos. A OMS prevê que o surto poderá atingir mais de 60.000 pessoas nos próximos meses.

Para além das condições de vida deploráveis de 80% da população que o Progama Mundial para a Alimentação estima viver com menos de US$2 por dia , quase metade tem malnutrição crónica devido à fome e falta de acesso a bens de consumo, e a pouca água canalizada a que este povo tem acesso nos últimos tempos está contaminada por falta de produtos quimicos para tratamento.

Mas mais grave ainda é que ante esta situação dramática de saúde pública o sistema sanitário está em franco colapso com falta de medicamentos e pessoal, havendo inclusive algumas unidades sanitárias a encerrarem.

Até onde irá o sofrimento deste povo?

Quando faço alusão a povo, estou a referir-me àquela maioria silenciosa que continua no país, a quem têm sido progressivamente retirados direitos básicos de sobrevivência, ao ponto até lhes estar a ser negada a condição de enfermidade. Estou a falar daqueles que óbviamente não importam nem contam aos olhos dos tomadores de decisão. Daqueles que são vítimas da negação dos dirigentes, desses que perderam as vidas ou estão debilitados por este surto de cólera que oficialmente está sob controlo, mas que é claramente uma crise humanitária sem precedentes para este país.

O porquê desta situação no Zimbabwe escapa-me e ante tudo isto pergunto-me: onde está a comunidade internacional, as Nações Unidas, o Tribunal Internacional, a União Africana? O que é que os líderes da região estão a fazer para se pôr fim ao sofrimento deste povo?

Há uma corrente de opinião liderada pelo Ocidente segundo a qual Robert Mugabe é causa desta degradação do tecido social. No outro extremo há quem defenda que o Ocidente, mais específicamente o Reino Unido e Estados Unidos são responsáveis por este status quo.

Eu francamente considero que a responsabilidade é de todos, minha inclusive. Eu explico-me.

Para mim Robert Mugabe perdeu completamente o bom senso, a consciência e até o tino humano, pois só uma pessoa fora de si e insensível pode ter a coragem de impingir tanta dor e sofirmento ao seu próprio povo para se manter no poder. A história dá-nos exemplos de ditadores desse espécie: Somoza, Hitler (de quem Robert Mugabe copiou o bigode), Pol Pot e Idi Amin, para mencionar apenas alguns.

Por outro lado, e à medida que o Zimbabwe se afunda no horror deste surto de cólera, raptos e assassinatos políticos, pobreza e doença a maior parte dos dirigentes da região anda com panos quentes a tentar contornar a situação em vez de resolve-la de uma vez por todas e definitivamente.

Porquê, pergunto-me?? Porque não nos explicam o que se passa nos bastidores? Será que essa tal de quiet diplomacy é assim tão silenciosa, ou simplesmente não existe? Que compromisso ou compromissos é que existem que não são claramente do domínio público?

Se por um lado a imprensa internacional alegadamente deturpa a real situação, e por outro lado a região parece estar dividida e optou pela omissão, a nós seres humanos e racionais nada mais resta senão tirar ilacções e fazer conjecturas.

É assim que me pergunto se terão esses compromissos a ver com as lutas de libertação pelas independências? É que ultimamente têm vindo à superfície versões diferentes ou críticas sobre a história oficial dos movimentos de libertação e a opinião pública divide-se em relação a esse tema.

Mas independentemente disso, é evidente que os libertadores das pátrias mereçem o apreço e respeito por terem desbravado esse caminho para benefício de todos nós, deles inclusive. Só que essa luta já acabou a pelo menos uma geração atrás. Desde então esses mesmos dirigentes se tornaram pais e avós e veja-se o legado que estão a deixar para as gerações vindouras.

Será que pensam que a luta de libertação do passado deve prevalecer sobre o presente e de certo modo também sobre o futuro ao ponto da actual luta contra a pobreza e contra a doença serem desvirtuadas e até mesmo agravadas pela sede do poder?

E onde ficarão aqueles, onde indubitávelmente me posiciono, que são a favor do progresso, que se sentem capazes, e genuínamente querem ser parte do esforço colectivo de tirar África do marasmo a que está voltada?

Se há uma coisa que me entristece profundamente é constatar que quando se enlistam países em qualquer domínio da ciência, das artes, da economia, etc. invariavelmente a referência a países Africanos é inexistente, ou então quando se fala de África, é como se de um único país se tratasse. Este continente tão vasto, tão diverso, tão rico, tão pouco conhecido, ou melhor, conhecido essencialmente pelas acções de dirigentes que o governam como se fossem chefes tribais de outrora, parece não merecer o lugar que tão sómente por existir lhe é devido. Será que estes dirigentes não veêm isso ou para eles o real valor de África é indiferente desde que isso não os afecte pessoalmente?

Estamos em pleno Século XXI, e os ventos da mudança não param, mesmo que todos os Mugabes e aliados pensem que podem parar o vento com as mãos. As mudanças estão a acontecer em vários quadrantes neste planeta, desde mutações resultantes da globalização, passando por mudanças climáticas e até de consciência. A poucas décadas atrás, aquando das independências dos países Africanos, quem diria que o mundo testemunharia a eleição da primeira pessoa de côr para a presidência da actual potência mundial?

E África? Quo vadis Africa? Não é altura de pararmos de vez com o velho hábito das mãos estendidas e auto-comiseração para começarmos a usá-las junto com as nossas cabeças e corações para fazermos a diferença? Porque afinal também nós ‘yes we can’ desde que cada um faça a sua parte. Ninguém é melhor que ninguém e são justamente as diferenças que cada ser humano tem, que torna cada um de nós especial e singular e acima de tudo dependentes uns dos outros.

É altura de deixarmos de ter dirigentes e passarmos a ter líderes e a diferença entre um e outro reside no facto de contráriamente aos líderes que no essêncial veêm, ouvem e ajudam cada ser humano tirar o melhor de si, os dirigentes se impõem pelo poder que detêm exercendo a autoridade que em regra consideram inalianável. Constato com tristeza que estes fazem tábua rasa e bi-polarizam o cerne da questão insinuando e às vezes até ousando dizer que quem não está a favor deles é contra. Quando é que esse dedo acusador mudará de direção levará cada um e todos nós a apontá-lo para nós próprios e a fazer uma introspecção sobre as nossas acções ou inacções?

Segundo a lei da vida os sábios devem ajudar aos menos sábios, os fortes aos fracos, os ricos aos pobres, os mais instruídos aos menos instruídos, os mais avançados aos que têm dificuldades de sair de trás. Pois eu tenho uma pergunta aos líderes anónimos que se encontram acomodados nas respectivas zonas de conforto: será que estamos à espera de mais milagres ou insultos à inteligência iguais ao “controlo do surto da cólera no Zimbabwe”, ou vamos arregaçar mangas de uma vez por todas e tornarmo-nos em agentes efectivos de mudança?

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Você não precisa de saber rezar, de orar, nem meditar. Mas se sentir que quer passar parte da sua energia para ajudar o povo do Zimabwe a voltar a ter a dignidade que todo o ser humano merece, feche os olhos, e mande pensamentos positivos para esse canto do mundo.

Boas festas!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

sábado, 6 de dezembro de 2008

Uma História de Coragem

Segunda-feira 1 de Dezembro, foi o Dia Mundial do Combate ao SIDA. Acordei a pensar o que poderia fazer de especial para assinalar esta data, uma vez que o meu dia à partida seria anormalmente atarefado com reuniões de tabalho seguidas para aproveitar a presença do chefe na cidade.

O dia passou sem que voltasse a pensar no assunto até ao final do expediente, quando fomos à nossa última uma reunião no edifício da Vodacom. Aí constatei com satisfação que gesto de responsabilidade social esta empresa distribuiu t-shirts vermelhas e brancas aos seus trabalhadores que assim se apresentaram vestidos.

Já em casa liguei a TV e vi os dançarinos da nossa internacionalmente consagrada Companhia Nacional de Canto e Dança, num bailado deslumbrante alusivo ao dia. Sabia que esse muito anunciado show estava a decorrer, e teria até gostado de ter ido, mas não tive energia para enfrentar a multidão que se concentrou no Cine-teatro África, por isso achei óptimo poder participar a partir de casa.

Anabela Adrianopolous entrou em cena logo a seguir, com aquela voz bonita, determinada, e forte, para falar em Laços e Abraços. Não pude evitar lágrimas de emoção ao sentir o toque penetrante da voz daquela mulher bela, mãe, amiga, trabalhadora trajada de branco e também subtilmente de vermelho, como as pontas de um laço num abraço... Adorei o seu singelo poema de amor e paz, e também gostei da mensagem carinhosa do Stewart de consciencialização para que todos saibamos qual é o nosso estado.

Mais tarde ao abrir e-mails, recebi um link da Christian Aid, uma ONG Britânica que trabalha em projectos e programas de desenvolvimento e procura obter informação de retorno, ou feedback, sobre o papel da Igreja na luta contra o HIV/SIDA. Gostei da verticalidade do debate em curso, apenas em Inglês, por isso convido a quem se interessar a dar uma vista de olhos em: http://www.christianaid.org.uk/world-aids-day/wad-have-your-say.aspx.

Em retrospectiva, nada mais fiz relacionado com o dia Mundial do Combate ao HIV/SIDA, mas estou tranquila, não era para ser! Quando posso sou mais proactiva nos dias mundiais e internacionais, mas isso não retira o princípio de contribuir para mudanças, em prol do bem estar e harmonia social no resto do ano. Para mim, as datas temáticas são importantes para a elevação da consciência colectiva com vista à adopção de medidas e comportamentos inovadores.

Lembrei-me da marcha na qual participei a um ano atrás em Luanda, que foi simplesmente revigorante, alegre e consciente do papel crucial que as lideranças podem assumir no combate ao SIDA. O Uganda é um exemplo clássico de intervenção do Governo na mudança de comportamento das pessoas que resultou na queda da taxa de infecção pelo HIV de 44.2% em 1998 para 15% em 10 anos.



Este 1° de Dezembro teria passado dessa forma se não fosse o desvendar desta história verídica, que me tem sido contada aos poucos ao longo destes últimos meses, e que finalmente pude entender. Eu estou devidamente autorizada a partilhá-la neste blog, mas intencionalmente substituí os nomes das personagens.

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Raquel, mulher de 32 anos, foi mãe pela primeira vez aos 18. Casou-se nessa altura e foi feliz até perder o segundo filho de 6 anos. Ela e o filho foram internados na mesma altura, ele com malária, e ela com uma gravidez ectópica.

Raquel só veio a saber que o seu menino tinha partido dias depois da sua operação de interrupção daquela gravidez tão desejada, quando finalmente recuperou a consciência da operação que tinha sido longa e complicada. Nos seis meses que se seguiram a essas duas perdas Raquel viveu dilacerada de dores atrozes no baixo ventre, até que voltou a ser operada novamente para retirada de uma tesourinha que tinha sido negligentemente esquecida...

Mas a história de Raquel é mais dramática ainda. Uma vez em casa depois desta segunda operação, começou a ser progressivamente maltratada pelo marido que depois de repetidas vezes a convidar para sair de casa, chegou ao extremo de a pôr em cárcere privado. Ela teimosamente se recusava a sair do lar que os dois tinham construído e este braço de ferro apenas terminou no dia em que o marido também trancou durante uma noite inteira a irmã de Raquel mais nova que tinha ido levar comida. Quando as duas foram libertadas de manhã, Raquel foi arrastada pela irmã para a casa dos pais, onde final e lentamente começou a recuperar a sua forma física.

Os desaires de Raquel porém continuaram mesmo na casa paterna, pois ela ainda teve que passar por mais um teste de coragem. Enquanto convalescia, apercebeu-se com muita dor que as pessoas a evitavam. O seu corpo completamente desfigurado e cheio de úlceras afastava-a dos seus familiares que não tocavam na sua roupa suja e ela, mesmo fraca e gemendo de dores, era obrigada a lavar as mudas pessoais e de cama. A única ajuda que ela diz ter recebido na altura era para de pôr a roupa a secar.

Raquel sentia-se feia pois além das úlceras, o cabelo caíra-lhe todo, e vivia profundamente magoada e triste porque ninguém em casa tocava na louça que ela usava, nem se aproximava dela. Mesmo com a auto-estima muito em baixo, Raquel diz que algo dentro de si lhe deu forças para se cuidar. Valeram-lhe em parte os ensinamentos da sua avó sobre plantas medicinais, e também a sua própria intuição. Carlitos hoje o seu filho único, levava-lhe tubérculos, folhas, plantas, sementes e casca de árvores que ela pedia, tais como, batata africana, folhas de eucalipto, aloé vera, sementes de papaia, apenas para mencionar alguns.

Surpreendentemente a pele enegrecida pelas crostas, deu lugar a uma nova e esta mulher gradualmente recuperou a sua condição física e até onde foi possível o seu equilíbrio emocional.

Uns tempos depois desta saga, Raquel decidiu voltar a procurar trabalho como empregada doméstica, que é a sua profissão, e quis o destino que ela fosse trabalhar para um casal bonito, alegre e que transpirava saúde. Ela se recorda sorrindo que em casa eram todos gordinhos, até a filhinha pequena de quem ela era babá.

Apesar da reviravolta da sua vida junto a esta família, Raquel continuava triste e até zangada com a sua família, e depois, o seu corpo não voltou mais a recuperar o brilho e o seu rosto não perdeu por completo o inchaço. Um dia, em conversa com a patroa Raquel convenceu-se a ir fazer o teste de HIV/SIDA, para descobrir para seu desespero inicial, que era sero-positiva.

Contudo, ela não estava só. Esse casal para quem ela trabalhava e que a acolheu, revelou-lhe que também era HIV-positivo e com eles Raquel aprendeu que é possível viver-se feliz, saudável e ser-se “gordinho” mesmo sendo-se portador do vírus. Além disso, o pessoal de saúde que a aconselhou e lhe deu o amparo que ela necessitava foi instrumental para que ela rapidamente tomasse as rédeas da sua vida.

Foi só nessa altura que Raquel soube que afinal fora submetida ao teste de HIV/SIDA aquando da operação de retirada da tesourinha, e que o resultado tinha sido positivo. O marido e familiares foram imediatamente informados, mas nada lhe disseram. O resultado foi o estigma por parte de todos que ela amava, inclusive Carlitos, que na sua inocência foi instruído a manter-se distante da mãe.

Um dia, numa palestra na escola, o menino ouviu que as pessoas infectadas pelo HIV precisam de ajuda, carinho e amor. Confuso, pediu ajuda ao palestrante que pacientemente lhe explicou como é que a doença evolui no corpo das pessoas e lhe falou sobre o quanto a mãe estava a sofrer. Quando se sentiu capaz, Carlitos deu o primeiro passo de aproximação.

Raquel sorri ao lembrar-se do dia em que o seu filho lhe pediu para tomar um pouco do chá da sua chávena...

Hoje Raquel dá conselhos a familiares e amigos sobre como viver positivamente, e mensalmente faz a contagem de CD4 para monitorar o seu sistema imunológico. Ela é sero-positiva a 5 anos, e não precisa de tomar anti-retrovirais porque o seu nível de imunidade se mantem alto.

Raquel escolheu viver, e diz que quando o seu corpo vacila, ela o carrega para o trabalho e para a vida.